Giuseppe Pellizza da Volpedo, Il Quarto Stato
Eu sempre fui um dos que prefere um inconformista militante a um militante inconformado. Eu sempre fui também um dos que gostam de tocar a música em vez de ficar a ver a banda passar.
Em 2001 eu tinha 21 anos e juntei-me com uns amigos da minha idade para montar do zero uma candidatura autárquica no concelho de Azambuja. Não era uma candidatura independente: fomos bater à porta do Bloco de Esquerda porque achámos (e acho sempre) que devemos procurar na democracia existente as melhores formas de fazermos a nossa intervenção e na altura o BE ainda mantinha a sua aura romântica de convergência de pessoas diferentes antes de ser um partido convencionalizado (como acabaria por chegar a ser, o que é perfeitamente natural). Mas nem por isso deixou de ser uma candidatura feita a partir do zero: do BE apenas recebemos algumas fotocópias tiradas no grupo parlamentar, alguns autocolantes e uns poucos cartazes, para além da enorme simpatia e disponibilidade do Francisco Louçã em vir apresentar a nossa candidatura.
Com quarenta contos fizemos uma campanha, e recebemos uma subvenção do Estado de duzentos e setenta. Andámos a cortar madeira de coelheiras e galinheiros que os nossos pais tinham em casa para fazermos placards onde colámos oito cartazes recauchutados da convenção autárquica do Bloco desse anos - nada que um pouco de tinta em spray não resolva. Gastámos o dinheiro que enquanto estudantes não tínhamos a palmilhar o concelho até ao último lugar (alguém sabe onde fica Carvalhos? É depois de Casais de Além).
Não era uma candidatura independente, mas todos nela éramos independentes. E o que fazíamos, o que dizíamos e escrevíamos era com a seriedade, estudo e trabalho que deve ser posto em tudo o que se quer grandioso. No fim, quase ganhámos a Junta de Freguesia de Vale do Paraíso e eu fiquei a 128 votos de ser eleito para a Assembleia Municipal (não se iludam: ainda assim era um terço da nossa votação). E foi esta a nossa vitória. Nunca mais me digam que aos 21-22 ainda se é demasiado novo para fazer o quer que seja de jeito.
Serve isto tudo para dizer que decidi apoiar Manuel Alegre para Presidente da República, por muito respeito que me mereça Mário Soares, e explicar porquê. Porque acho que a política séria e edificante se faz do equilíbrio entre o peso do institucional e a ligeireza do informal, entre avançar porque tem de ser e avançar só para não perde uma oportunidade de ir a jogo, entre o inevitável e o desejável. No meio destas coordenadas é preciso escolher lados, e eu escolhi o meu.
Votarei em Manuel Alegre porque acredito na democracia em que ele acredita, e para isso vou pôr mãos à obra e recolher as assinaturas que conseguir para que a candidatura siga. Porque, como já disse, não importam as derrotas que sofremos, importam sim as vitórias que não temos por recusarmos o combate.
Para mais informação, www.manuelalegre.com
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