sexta-feira, janeiro 20, 2006

Acreditar até ao fim


Ontem estive no Pavilhão Atlântico. Não eramos vinte mil, mas também não tínhamos autocarros para nos trazer, nem andámos a arregimentar rebanhos para lá ir, como diz o candidato. Quem lá foi, foi porque tinha vontade de ir, não porque calhava.
A campanha de Manuel Alegre teve sempre esta tónica: quem apareceu, apareceu com uma enorme vontade. Quem apareceu fê-lo por amor à liberdade, e não porque tinha de fazer o frete ao partido. Esta vontade que move montanhas através de gestos simples é uma força muito poderosa que dará resultados no Domingo. É nisso que acredito, contra os que desanimam e se conformam com a coroação há muito anunciada.
Acredito na passagem à segunda volta por muitas razões.
Porque há muita gente indecisa que pode a todo o momento descair para o nosso lado. Porque nesse momento solitário e secreto em que se entra na cabine de voto e pomos o papel à nossa frente muita coisa nos passa pela cabeça. Porque nesse momento em que ninguém está a ver somos integralmente livres. Porque aí não há confusão possível entre quem achamos que vai ganhar, quem achamos que pode ganhar e quem queremos que ganhe, e a nossa vontade é soberana. E por último, porque em última análise a capacidade de sonhar e rasgar horizontes vale mais do que a capacidade de fazer contas, a vontade de ganhar vale mais do que a vontade de mandar. Merece mais ganhar aquele que luta do que aquele que acha que o lugar lhe está destinado.
No domínio da possibilidade, as probabilidades estão repartidas: a vitória de Cavaco à primeira volta é provável, mas a segunda volta também o é. Não é só um delírio visionário, é uma possibilidade cada vez mais concreta.
Aos que me chamam utópico respondo que essa é a única maneira de que vale a pena viver a vida. A utopia não é o irrealizável, é o que ainda não está realizado. A utopia é esse horizonte em movimento em direcção ao qual caminhamos sem a certeza de chegar mas com a certeza de que no caminho tudo o que fazemos é ganho.
Recuso a desilusão, o desânimo e o conformismo. Esses são os verdadeiros nomes da ameaça, pegando no que disse o poeta ainda ontem. Como já disse muitas vezes, só perdemos os combates em que não vamos à luta. Até ao árbitro apitar há jogo, e o prolongamento está perto. Só é preciso aceditar na força da nossa vontade de sermos livres, como no poema de Manuel Alegre de que se fez o hino da juventude, e que deixo em baixo.

Letra para um hino

É possível falar sem um nó na garganta
é possível amar sem que venham proibir
é possível correr sem que seja fugir.
Se tens vontade de cantar não tenhas medo: canta.

É possível andar sem olhar para o chão
é possível viver sem que seja de rastos.
Os teus olhos nasceram para olhar os astros
se te apetece dizer não grita comigo: não.

É possível viver de outro modo. É
possível transformares em arma a tua mão.
É possível o amor. É possível o pão.
É possível viver de pé.

Não te deixes murchar. Não deixes que te domem.
É possível viver sem fingir que se vive.
É possível ser homem.
É possível ser livre livre livre.

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