segunda-feira, outubro 31, 2005

Todos os Santos


Dia cinzento, céu carregado, a pesar em cima das boas almas que vão ao cemitério por estes dias compor as campas onde ficou o envólucro das que por cá passaram, cheias de flores, a maioria de plástico. Quem homenageia parece esquecer que usar flores tem implícito dizer que te dou isto como se te desse um breve momento de beleza pelo que gosto de ti e te lembro, é fugaz, esporádico e natural, gasta-se com o tempo mas permance intensamente pelo pouco que dura, assim não é a tua memória, que não se gasta e anda comigo para todo o lado, embora de vez em quando tenha de observar os ritos como este de vir aqui pôr flores numa floresta de pedras.
As flores são artificiais, o gesto nem sempre. E os mais novos, menos preocupados, vão hoje divertir-se brincando ao Halloween. Duas formas de lidar com a feiosa senhora. Qual delas a melhor.

quinta-feira, outubro 27, 2005

Outra ainda...


... é mais assim: Cogitasons, às quartas, das dez à meia-noite, na Rádio Voz do Concelho/Rádio Ribatejo (pelo menos por enquanto) em 92.2 fm.

terça-feira, outubro 25, 2005

Obsessão peregrina


Acabo de rastejar até casa depois de uma jornada de jogging de 4 Km e só dá para pensar que saudável loucura é esta do exercício físico. É uma pancada como outra qualquer. Não é só porque agora dei em surfista e estou apostado em participar no Decatlo dos Jogos Olímpicos de Pequim (e ganhar o ouro e tudo); é que numa vida equilibrada há que procurar compensações ao tabaco e ao alcóol que uma vivência socialmente saudável consome. E também porque uma pessoa incuba tensão o dia todo, simulando um quotidiano, uma rotina, e só ao sentir o esgotamento físico dá para ver como se pode recuperar de tudo.
Puxar pelo físico é como atirar pedras a um imaginário bode expiatório, e ninguém se magoa (pelo menos até ver). Houvesse mais desporto em Portugal e, por exemplo, a violência doméstica diminuiria - um pouco como o Benfica a ganhar campeonatos (mas também, a violência doméstica também é capaz de ser vista como um desporto pelos seus praticantes).
Pode ser que um dia passe. Pode ser que não. Até lá vou fazer mais uns abdominaizinhos, enquanto não me chamam o Abdominável Homem do Desporto.

quinta-feira, outubro 20, 2005

A beleza da capa só perde para o que está lá dentro


É som que invade imediatamente a corrente sanguínea, música subterrânea, aquática e etérea, tudo ao mesmo tempo. Vale a pena acordar todos os dias para ouvir um prodígio tão encantadoramente simples, tão perfeitamente trabalhado. Takk é o último dos Sigur Rós, quase tão bom como Agætis Byrjun. A Islândia não é só lava e gelo. Ditosa pátria que tais filhos tem.

domingo, outubro 16, 2005

Matámos o borrego!


Vitória COnvincente, um COndestável D. Nuno, uma exibição COtegórica e inteligente. Só é pena que a TMN tenha estragado as armaduras dos guerreiros com aquela desmesurada coisa azul-esverdeada. O logótipo é um bom logótipo, não havia necessidade de o mergulhar naquela nespécie de écran de computador. O das camisolas do Porto era mais
pequenino, mais maneirinho. Porque é que até nisso temos de ser maiores?

sexta-feira, outubro 14, 2005

Pérolas da Cultura Ocidental



Paladino da Justiça, campeão da verdade, terror da Máfia de jaquinzinhos e arroz de grelos, é ele, Duarte & Companhia, e o seu Rocinante 2 cavalos. Zé Gato foi um ensaio; a partir de Duarte nunca a televisão portuguesa seria igual.
Vou já comprar.

quarta-feira, outubro 12, 2005

Só para ser original...

...não vou falar das autárquicas, nem das vitórias de Fátima Felgueiras, Isaltino de Morais, Valentim Loureiro e Isabel Damasceno. Até porque há 124 câmaras em investigação e outros tantos presidentes na calha. Mas é mau.

sábado, outubro 08, 2005

Guevara


Faz hoje 38 anos que Che Guevara foi capturado e morto pelo exército boliviano e pela CIA. Morreu um homem que presidiu a julgamentos sumários e ordenou a execução de pessoas conotadas com o regime durante a revolução cubana. Morreu, também e acima de tudo, o homem que como nenhum outro acreditava na causa da libertação dos povos e que foi o primeiro a querer levá-la ele próprio a todo o mundo.
Muito falaram de Guevara. Miguel Torga disse tudo neste poema.

terça-feira, outubro 04, 2005

Com a verdade te apagas

Ver as confrangedoras figuras que Herman José tem feito na televisão ultimamente pôs-me a questionar se a admiração que tinha por ele quando era adolescente era apenas uma infelicidade de juventude ou se o homem perdeu mesmo qualidades desde que chegou à SIC.
A RTP Memória descansou-me o espírito ao repor o Com a Verdade Me Enganas, o concurso inteiramente da sua autoria que eu via antes de jantar há coisa de dez anos atrás. Está lá o essencial do humor de Herman: provocação e piadas picantes mas inteligentes, muitas vezes na fronteira do bom gosto mas sem resvalar, e alguma subtileza, da qual entretanto desistiu. Nessa altura, Herman sabia comportar-se. Comprova-se que o homem era um grande humorista, e que a Herman Enciclopédia não era só um genial acidente de precurso, que beneficiou da colaboração inteligente de um capital humano que veio a estar na origem do que é hoje o Gato Fedorento.
Hoje, Herman é apenas um extravagante desbocado e obcecado por ser o centro das atenções, que não deixa mais ninguém brilhar, que abusa do tempo de antena para promover-se e aos seus negócios, e que se diverte a rebaixar os convidados. O serviço público de televisão impunha-lhe limites. Hoje Herman é apenas um faustoso navio desgovernado em alto mar, que sobrevive enquanto tiver rios de dinheiro para gastar. Mas Francisco Penim chegou é o novo director de programas de SIC, e já pôs toda a gente de sobreaviso. Pode ser que lhe faça bem.