sexta-feira, novembro 11, 2005

A 'nha terra é linda!


Poucos habitantes da cidade perceberão o encanto de viver numa terra onde se trata por tu o homem do café, ou se cumprimenta a senhora da mercearia quando a vemos na fila para o médico no posto clínico, ou se desatina com a funcionária da Junta quando andamos a recolher assinaturas para um tipo que quer ser presidente da República, apenas para acabar tudo num bem disposto "só tu para me moeres o juízo", ou se pede uns garrafões de água ao vizinho que tem um furo porque acabou a água da companhia.
Mas na cidade ainda há alguns focos de resistência à agressão da paisagem urbana ao espírito. Veja-se este trecho retirado da crónica de hoje do cityslicker Miguel Sousa Tavares no Público, sobre o seu Bairro de Campo de Ourique:

«O melhor exemplo deste espírito de liberdade e tolerância mútua que aqui presenciei é um exemplo muito politicamente incorrecto, ocorrido manhã cedo, no café onde sempre tomo o pequeno-almoço. Uma senhora, cliente habitual, pediu um café e acendeu um cigarro. Nessa altura, um sujeito que eu nunca ali tinha visto e nunca voltei a ver, empertigou-se todo e, rico de novos conhecimentos adquiridos, interpelou-a "Minha senhora, o cheiro do seu cigarro está-me a incomodar!" E ela sem sequer se voltar, soltou de lado, mas alto e bom som: "Olhe, também o seu cheiro me está a incomodar, mas eu não lhe ia dizer nada." E o intruso saiu, de rabo entre as pernas e perante os sorrisos cúmplices dos habitués (oh, eu sei, um bando de selvagens!)»

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