quarta-feira, novembro 09, 2005
Dos heróis
Em qualquer cultura haverá de forma mais popular ou erudita o culto dos heróis. A antiguidade clássica deixou-nos Aquiles, Ulisses, Hércules, Jasão e Teseu. Sindbad chegou-nos por contágio da Arábia. A cavalaria medieval deu-nos o estereótipo do novo herói com o rei Artur e a Távola Redonda, e Cervantes explorou exaustivamente o conceito com D. Quixote (a ele chegarei um dia).
O século XX recuperou o papel do sobrenatural e apresentou-nos os super-heróis da banda desenhada, objectos acidentais de um cientifismo delirante, em que para grandes males só mesmo super remédios.
Deste tipo de heróis, Batman é o meu preferido (lembro-me sempre do Batman na hora de vestir o fato de surf).
Batman nunca teve essas mariquices de super-poderes que fazem do trabalho dos outros super-heróis um passeio na avenida. E no entanto parece um verdadeiro super-homem. Bruce Wayne percebe que o que importa não é a pessoa por trás do fato, mas a ideia que os outros fazem dela - o poder está no símbolo. Enquanto que os outros super-heróis andam às voltas para salvar o mundo, em Batman isso apenas é um aspecto marginal da história: o que realmente interessa é a dimensão humana do mito; não o que os outros vêem naquilo que ele faz, mas aquilo que nós, espectadores da histórias, vemos no homem.
A história de Batman teve a sorte de ser pela primeira vez abordada em cinema pelo poeta que é Tim Burton. Com o Homem-Aranha o esforço nunca foi muito sério, e o resultado foi patético - mas a verdade é que também a personagem não se presta a isso.
Em Batman Begins, Christopher Nolan baralha e volta a dar, conta a história de maneira diferente, mas muito complementar à leitura de Tim Burton, embora o que se ganhe em credibilidade se perca em poética. Explicar a personagem, esmiuçar as linhas com que ela se cose, tem o risco de a desfazer, como se desmontássemos um aparelho: podemos ficar a perceber como funciona, mas também podemos não conseguir que ele volte a ser o que era para nós (para começar, porque pode não voltar a funcionar).
Eu gosto daquele Batman, o Batman que também ganha cicatrizes e nódoas negras. Aquele é o Batman que fica para a história, não o Batman de Joel Schumacher, não o Batman dos anos 60, da TV.
Batman é um grande herói porque é humano como nós. Para heróis sobrenaturais prefiro o Thermoman, na SIC Comédia ou na 2:.
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