O que fica da passagem de Álvaro Cunhal pela vida é uma herança ambígua na sua apreciação.
Apesar de ser uma personagem cujos feitos e traços de personalidade foram carregados de simbologia revolucionária pela hagiografia comunista (e pelo próprio), é certo que passou pela prisão e sofreu o que a ditadura lhe inflingiu sem perder de vista o objectivo final.
Apesar de ter tentado instaurar em Portugal um regime soviético, dou-lhe o benefício de achar que o fazia com a benigna intenção de defender o seu povo, mesmo que se tenha recusado a acreditar na preversão que aquilo que defendia se tornou na Coreia do Norte ou na China (embora fosse crítico do maoísmo), ou na Europa de Leste.
Cunhal é idolatrado de um lado e enxovalhado do outro. Por mim, vejo-o como a mãe do protagonista de "Adeus Lenine", cuja fé inabalável no regime era a razão da sua vida: não sei se se pode pedir a alguém que deu tanto por uma causa que tenha cabeça fria para concluir sossegadamente que afinal não é bem assim.
Apesr de tudo, Cunhal foi um resistente e um combatente pela liberdade, aquele a quem o povo acolheu em êxtase em Santa Apolónia e depois no 1º de Maio, mais até do que a Mário Soares, que pululava de um lado para o outro a apanhar apanhar as sobras do seu magnetismo e da sua aclamação.
A história deu razão a Soares. Mas por tudo o que Cunhal representou para a luta do seu povo, inclino-me perante a sua memória.
quarta-feira, junho 15, 2005
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